Trabalho e o ser humano

com Carolina Bergier


por Grazielle Alves

Nossa evolução acontece em cima de uma narrativa que a gente acredita.

No primeiro encontro da nossa jornada REFRAME — O resgate do ser humano no dia 20 de agosto de 2020, tivemos o prazer de trocar com a Carolina Bergier, que nos trouxe alguns insights e questionamentos importantes.

Um deles foi a história da separação de Charles Eisenstein, que foi a narrativa que nos levou ao colapso. Ou seja, que somos separados dos outros e de todas as coisas.

Nós acreditamos tanto nessa história que desenhamos nossas vidas a partir disso — seres isolados com problemas isolados que serão solucionados a partir de uma construção educacional onde temos especialistas para cada caso isolado.

Vemos, com base nas crises atuais, que especialistas não são capazes de resolver os problemas, porque estes são complexos. Assim, precisamos também de um pensamento complexo.

Esta história nos trouxe até aqui. Ela é importante e não deve ser descartada (senão entraríamos naquele mesmo lugar de separação), porque uma mudança de narrativa revela as feridas da narrativa antiga, e as revela a nível da consciência.

Eisenstein propõe uma nova história, a do interser — algo em construção — e conecta o que separamos: eu e o outro, humanidade e natureza, trabalho e lazer, precisar e querer, entre outros. Não é mais uma história de comando e controle, mas sim do encontro, de chegarmos a soluções juntos. É uma resposta diferente aos desafios, porque não apresenta modelos e receitas prontas. Cada ato é significativo para o sistema.

E por que estamos falando de tudo isso?

Porque acreditamos que a consciência é o que nos guia a construir melhores caminhos sobre o que realizamos enquanto seres humanos em relação ao que chamamos de trabalho.

É sobre refletir o que é esse trabalho e em como estamos colocando nossos talentos à serviço desse sistema inteligente.

Em contrapartida, Carol Bergier nos traz à reflexão a ansiedade que temos ao querer encontrar um propósito para esse servir, levando muitas vezes ao nosso medo de ficar para trás e competir para sobreviver (reforçado pela história da separação quando ela destaca a competição como premissa importante). Essa ansiedade causa tensão, e a tensão impede o movimento.

Ao passo que o movimento é gerado quando confiamos no não-saber, reconhecemos que o caos existe, que o que se tem para encontrar está dentro, e que é importante estar em conexão à nossa natureza e aos ciclos da vida e, acima de tudo, estar atento.

São 4,6 bilhões de anos de um sistema vivo se desenvolvendo. O ser humano chegou no último milhão, achando ser mais inteligente que essa sabedoria, que a controla e sabe o que fazer com ela.

Na verdade, somos seres inteligentes dentro de um sistema inteligente.

“Precisamos desinvestir na desconexão, porque a conexão é dada. Nascemos em conexão.” Carolina Bergier

Um dos passos para a grande virada, trazido por Joanna Macy — grande estudiosa da ecologia profunda, é se permitir sentir a dor do mundo. A reflexão que fica é a de não é ir em busca de um propósito, mas estar ativamente atento à dor, à curiosidade, à indignação chegarem, sabendo a hora de pausar ou de agir.

Assim, “assumir o seu lugar na evolução do mundo.”

— Carolina Bergier

Indicação de experiência para nos reconectar:

Aplicativo: Deep Time Walk. Projetado com a tecnologia apropriada, o Deep Time Walk calcula sua velocidade e distância conforme você viaja por 4,6 bilhões de anos, permitindo que você aprenda sobre os principais eventos evolutivos conforme eles ocorrem e compreenda o impacto destrutivo dos humanos no complexo clima da Terra.